Outro dia estava conversando
com meu querido filho Tomás sobre degustação de vinhos. Ele me contou que vários vinhos nacionais
ganharam prêmios ou foram muito bem classificados em degustações feitas às
cegas, isto é com os rótulos cobertos, um deles é um vinho dos mais baratos,
que se acha facilmente nos mercados. Comentei que participei de um grupo de
donos de restaurante que se reunia aos domingos depois do exaustivo fim de
semana, para degustarmos vinhos. Cada noite a reunião era feita num restaurante,
e os participantes deveriam levar um tipo de vinho, com alguma característica interessante. Mas percebemos que os julgamentos eram fortemente influenciados
pelo rótulo, país de origem e principalmente pelo preço. E na reunião seguinte trouxemos os vinhos com
papelotes e fitas crepes em tudo o que pudesse identificá-los, e não deu
outra.... o vinho mais apreciado foi um nacional muito despretencioso...
Hoje, apesar da
estreiteza financeira na qual me encontro, resolvi comprar uma garrafa do vinho
citado pelo Tomás, o tal quinto colocado, para acompanhar meu almocinho dominical,
quando mesmo estando solitário, faço questão de dar uma caprichadinha. . Preparei
um drinquezinho com uma velha vodka russa, e caprichei num salmão com um molho
de ervas frescas do meu canteiro. Gosto da combinação peixe com vinho tinto,
justamente pelo fato do peixe ter um paladar mais delicado do que uma
macarronada, ou um assado cheio de temperos.
Êta drinque
gostoso!!!... Acho que vou fazer mais um... só meia dose...
Então pra
compensar a ausência de alguma companhia interessante resolvi caprichar...
Arrumei a mesa com
uma velha toalha bordada, e uma linda taça de cristal, relíquias dos bons
tempos, e para começar o almoço acabei com o finzinho de um chileno bastante
razoável, trazido por um amigo, que estava na geladeira (quem estava na
geladeira era o vinho!!!). Ora ora... upsz!!
Ôba chegou a hora
do quinto colocado...
Quando sorvi o
primeiro gole desse cabernet, senti aquela explosão na boca que só um
bom vinho oferece. Mas foi uma explosão chuááá... não foi pôu!
Agora que estou no
fim do segundo copo percebi hic o seguinte hic...
Há um termo que os
enólogos usam para um vinho muito suave... é o vinho chato... o vinho sem
acidez, sem amargos, gostosinho, levinho... um vinho diminutivo. Acho que é
chato no sentido de ser algo plano, sem arestas
nem contornos.... Hic...
Então resolvi
atribuir aspectos geomorfológicos a essa bebida hic... amazing feita de suco uvas estragado.Um caldo preparado com requintes absurdos e que adquire sabores que tem literalmente
enebriado a humanidade durante séculos... milênios... É a turma pisava com os pês sujos e depois esperava tudo aquilo apodrecer. Mas o resultado é muuuiiito bom!
O vinho tem que ter presença, corpo, sabores fortes e intensos que lhe dão personalidade, que o diferencie de bebidas vulgares. Tem que nos desafiar pelas suas qualidades, pelos seus sabores acentuados e marcantes... até desafiadores como os ácidos e os amargos, fundamentais para a soma sensorial...
O vinho tem que ter presença, corpo, sabores fortes e intensos que lhe dão personalidade, que o diferencie de bebidas vulgares. Tem que nos desafiar pelas suas qualidades, pelos seus sabores acentuados e marcantes... até desafiadores como os ácidos e os amargos, fundamentais para a soma sensorial...
Mas tem que ser harmonioso, interessante, belo e prazeroso.
Poesia?! Não sou poeta, mas...
Podemos imaginar
uma paisagem e tentar compará-la com o
vinho que sorvermos e saboreamos. Imagine uma planície com pequenas
elevações, sem quase nenhum obstáculo, apenas alguns morrinhos... muito fácil
de percorrê-la, sem surpresas, nem canseiras... plana, chata!
Nunca pratiquei o alpinismo, mas parece que quanto maior o obstáculo, maior o prazer de desfrutá-lo.
Nunca pratiquei o alpinismo, mas parece que quanto maior o obstáculo, maior o prazer de desfrutá-lo.
O bom vinho tem
picos, vales, crateras, vertentes e ao assimilá-lo teremos uma paisagem
deslumbrante.
Então viajei mesmo e fiquei pensando.... e resolvi sentar no compuuutador.... hiiii, sentar no computador não. Olha vc entendeu, não? Então...
Hic... ufff... ainda
consigo dijitar... digitar...
Talvez as mulheres
poderiam entrar nesse contexto... numa comparação um tanto absurda, mas como já
estou acabando o segundo começando o terceiro,
copo, taça. Não bebo vinho em copo. Peço paciência às minhas elegantes
leitoras, e não.. por favor não me julguem apressadamente.
Trata-se de uma
meeta... metáfora, como a do outro poeta um tanto alcoolizado que disse que a
mulher é uma rosa. Hiiic...
Esse teclado se mexe muito, fica virando. Pára! pô!
Ó você aí que está
me lendo, pensa comigo ó...
É o zzzzeguinte...
imagina uma mulher plana, insosa, suave, gostozinha, lindinha, levinha... uma
mulher diminutiva. Talvez faça muito sucesso no balcão dos mercadinhos e cardápios
de restaurantes... os restaurantes da vida... por quilo. Padronizados, tudo
como mesmo sabor. Uma planície...ou uma
praia sem montanhas, sem matas... nem vento, nem ondas, nem sustos nem
surpresas.
Plana... chata?!
Eeee puzzzeram
pouco vinho nessa garrafa, meu, Acabou!!
Peraí... tem mais uma... o duro é segurar o sacarrolha e virar a garrafa, quer dizer segurar a garrafa e torcer a rolha.... ah... você entende. O barulhinho que faz o vinho quando a gente põe o primeiro copo... junto com o cheirinho...
Peraí... tem mais uma... o duro é segurar o sacarrolha e virar a garrafa, quer dizer segurar a garrafa e torcer a rolha.... ah... você entende. O barulhinho que faz o vinho quando a gente põe o primeiro copo... junto com o cheirinho...
O que eu estou querendo... bem... a grande mulher... é como o
grande vinho.
Tem que ter presença,
corpo, opiniões fortes e fundamentadas. Tem que nos desafiar pelas suas
qualidades, pelos seus sabores acentuados e marcantes... Até desafiadores como
os ácidos e os amargos, fundamentais para a soma sensorial.
Mas aí... Hiii!!!
zzzzzzóoo tem um pequeno detalhe...
O bom vinho, o
vinho excepcional... eu vou lá, compro bebo e fim.
Mas essa grande
mulher... ufa! Tenho que conquistá-la, merecê-la, e.... infelizmente é o
zzzzzeguinte ó... a maravilhosaaa a... a... sonhei com ela a vida inteiraaaa... zzzz
A grande...
aquela... é ela que escooolhe quem vai beber....!!!
Oôôôopaa o teclado
eeezzzztá ezzzgorregando.
Quando acordei, estava debruçado sobre a velha escrivaninha de tampo de embuia, cheio de marcas do tempo. Antes de apagar devo ter empurrado meu enésimo notebuk de modo que foi uma certa surpresa deparar com esse texto.
Então... agora, nem vou pensar muito... Quer saber??... vou publicar (tornar público) no meu portentoso blogghh.