e os caranguejos???
Prezadas leitoras e leitores... reescrevi a história que inventei sobre as agruras pelas quais um deputado ambientalista passou.
Para os que já leram fica aqui o aviso de que não mudei muito os fatos, nem os vários finais que estão à disposição de meu sábio e seleto público...
Marco Justo Passos é um exemplo de que com bastante esforço é possível superar problemas de berço. Nasceu no litoral do sudeste brasileiro, num quilombo bastante afastado de qualquer cidade, filho de pais pescadores. Era muito bem dotado fisicamente, e além disso, desde pequeno sempre foi super ativo. Dormia pouco, mas profundamente, e quando estava acordado, Justinho não conseguia parar quieto, tinha uma reserva de energia impressionante. Por uma questão de sobrevivência familiar era muito requisitado para ajudar nas plantações. Mas na pesca a coisa era mais complicada, sempre acabava recebendo alguns safanões porque não aguentava ficar parado no banquinho. Por outro lado remava a canoa caiçara com uma presteza remarcável.
Devido à insistência do pai, ele se dedicou aos estudos com bastante seriedade, e aos dezoito anos foi prestar vestibular na Usp, infelizmente foi reprovado. Mas resolveu não voltar para casa. Conseguiu emprego de ajudante num hotel chique onde até lhe arrumaram um cantinho para dormir. Passou o ano trabalhando e estudando até que finalmente prestou novos exames. Não foi muito brilhante, mas beneficiado pela política das cotas, conseguiu pegar a última vaga no curso de biologia.
Seus primeiros tempos na faculdade foram um tanto quanto complicados, mas com a graninha, que conseguira juntar pagou alguns meses por uma vaga de pensão vagabunda num bairro pobre mais ou menos perto, até conseguir vaga no conjunto residencial da cidade universitária. Era moço simpático, bonito, falava pouco, e principalmente, evitava qualquer discussão, mesmo que fosse sobre futebol, o que o tornou bastante popular.
No decorrer do curso, Marco, como Justinho gostava de ser chamado, percebeu que tinha uma afinidade maior com as disciplinas mais voltadas à natureza, do que com os aspectos mais ligados à tecnologia de ponta, talvez por ter passado sua infância quase como um índiozinho, andando descalço e semi-nu, correndo no meio do mato, lidando com animais domésticos, pescando. Percebeu com espanto que muitos de seus colegas, futuros biólogos, nunca tinham visto algum bicho que não fosse gato ou cachorro e se horrorizavam ao manusear um sapo, ou um inseto, mesmo que estivesse conservado em álcool ou formol. Foi assim que se identificou com as pessoas ligadas ao estudo do ambiente, e trabalho de campo... os ecologistas, os botânicos, os zoólogos e viu que o ambientalismo seria bom campo para se desenvolver profissionalmente.
Logo que se formou, conseguiu estágios e bolsa de estudos num instituto ligado à área de biologia marinha, oceanografia e pesca, que ficava relativamente próximo de onde tinha nascido.
Para encurtar a história, Marcos já contratado como funcionário concursado, passou realizar estudos numa área de mangue, muito pouco conhecida, onde havia se aventurado algumas e raras vezes com sua canoa, quando ainda morava no quilombo. Percebeu que o fato do lugar ser inexplorado poderia fornecer muito material para produzir e publicar inúmeros trabalhos científicos. Com apoio da instituição onde trabalhava, fez mestrado e doutorado acabando por se tornar um especialista conhecido até no exterior... o Ilmo e Exmo. Prof. Dr. Marco Justo Passos.
Dr. Passos havia descoberto e identificado algumas espécies de animais marinhos que, ao que parece, só habitavam nessa área, uma das últimas realmente bem preservadas de toda costa brasileira. É um lugar de acesso extremamente difícil, longe da rodovia, numa região muito acidentada cujo acesso é bastante complicado mesmo por barco .
O Saco do Escuro é uma pequena baia cercada de dois penhascos rochosos, numa espécie de península que sai da Serra do Mar. Imagine, minha caríssima leitora e meu simpático leitor, um gigantesco dedo rochoso de uns quatro quilômetros de comprimento, apontando para o oceano Atlântico, com mais ou menos um quilômetro de largura, e uma altura de uns trezentos metros, entrando mar a dentro. Na parte lateral desse dedo uma enorme fenda, formando uma pequena enseada limitada pelos penhascos, com esse o nome nada convidativo...
Saco do Escuro!
Quem vem pelo mar, encontra na frente do Saco do Escuro uma formação de rochedos formando uma intricada barreira composta de recifes recobertos de corais, ostras e cracas, que complica bastante a passagem para a praia das Ripas. O lugar é incrível... realmente tenebroso. A chegada de barco após navegar paralelamente a esse gigantesco dedo... esse sinistro costão... é assustadora. O intrépido marinheiro se depara com uma espécie de falésia, onde a rebentação forma uma linha branca em contínuo movimento, e além do fluxo e refluxo das ondas existe uma correnteza violentíssima e traiçoeira. O Saco do Escuro fica dentro da fenda, limitada por dois morros com encostas rochosas quase verticais e o intrépido mal consegue divisar além dos rochedos espumantes a linda e mítica Praia das Ripas, cercada pela Mata Atlântica.
No meio desses dois montes íngremes, existe um vale onde deságua um riacho, que por um capricho da natureza nasce nas encostas da Serra do Mar, e após serpentear por cima do dedo acaba se despejando em forma de uma cachoeira, no fundo dessa fenda. Na época das grandes chuvas de verão, a água que vem da Serra aumenta muito, carrega grandes quantidades de material que sedimentou no inverno, e o deposita na baia. Esse material ajuda na formação e manutenção de um mangue de características únicas, daí a existência de espécies tão diferentes.
A espécie que ficou mais famosa foi um pequeno caranguejo que tem um estranho comportamento. Os caranguejinhos ficam fazendo bolotas de detritos e lama que atiram uns para os outros. Um faz uma bolinha, atira para o outro que pega a bolinha no ar, e aparentemente a reconstrói passando na boca. Rola a bolinha por um tempo e a atira para algum outro caranguejo que se aproximou e esperou atentamente a atividade do companheiro..
Dr. Marco Justo Passos descreveu a espécie e a denominou de Gilmarius taffarelicus em homenagem a grandes goleiros de seus tempos de juventude. Essa piadinha o tornou bastante conhecido, com entrevistas em Tvs, rádios, jornais e revistas. E como Marco se tornou um ferrenho ambientalista e preservacionista acabou sendo eleito deputado estadual, apoiado por os setores ligados aos ideais de respeito à natureza, e defesa do ambiente.
Mas o Saco do Escuro começou a ficar famoso pela sua beleza estonteante, sua fauna e flora excepcionais passando a atrair aventureiros por terra e por mar. Fizeram uma trilha que desce ao lado da cachoeira. Trata-se de uma trilha muito perigosa onde se torna necessário o uso até de equipamentos para alpinismo, cujo final termina num brejo, um mangue pantanoso enorme e traiçoeiro, que faz o acesso a à praia das Ripas quase impossível por terra. Contam até que já morreram alguns aventureiros imprudentes...
A insólita e misteriosa Praia das Ripas é cortada, perpendicularmente ao litoral, por faixas de rochas, e em cada um dos espaços entre as faixas a areia tem cor e textura diferente.
Bem, um lugar como esse não poderia deixar de atrair turistas estrangeiros, que de tempos em tempos arriscam seus iates mirabolantes, ancorando-os próximo aos recifes e tentam chegar até essa estranha praia com seus botes infláveis.
Mas então, surgiu no cenário a International Society pela Preservação do Saco do Escuro (IS-PSE), uma associação internacional com esse estranho nome, que conseguiu ser indicada tutora de todo o lado sul da península, onde se encontra a baia do Saco do Escuro, por um organismo ligado à ONU. Num gesto surpreendente o governo brasileiro apoiou a decisão, aceitando a IS-PSE como sendo de utilidade pública. Imediatamente a coisa foi parar no congresso e começou uma grande discussão nas redes sociais, com uma boa dose de noticias falsas e alarmantes...
Como era mais ou menos esperado, o deputado Dr. Marco Justo Passos, imediatamente colocou em dúvida a constitucionalidade de se permitir uma associação internacional tutelar uma área do litoral brasileiro. Pediu uma investigação ao Ministério Público e veio à tona que essa associação pretendia instalar um deslumbrante hotel e alguns pequenos e luxuosíssimos condomínios que seriam vendidos a preços descomunais, acessíveis apenas para pouquíssimos megamilionários. O projeto era caríssimo moderníssimo superlativíssimo. Realmente a ideia básica era de preservar ao máximo para o deleite de pouquíssimas pessoas, mas com certeza a construção, utilização e manutenção dos edifícios traria uma grande perturbação a um lugar considerado santuário ecológico, por toda a comunidade científica internacional.
Pretendiam abrir um canal entre os recifes e criar uma marina ampliando as espantosas e misteriosas cavernas existentes na base de um dos paredões rochosos que despencavam sobre o mar, onde estacionariam seus barcos. Para a construção de tal paraíso seriam utilizados desde raios laser até estruturas de fibra de carbono, conversores solares e outras maravilhas desenvolvidas especialmente para o projeto, que desta forma também se apresentava como uma espécie de ambiente de pesquisas tecnológicas.
Assim que soube do projeto, o deputado Dr. Marco Justo Passos colocou-se contra e levou o caso até o Congresso Nacional liderando uma campanha para impedir qualquer mudança na legislação ambiental da área do Saco do Escuro feita no intuito de permitir a realização de tal empreendimento.
Marco se elegera entrando num partido de pequena expressão, que sempre fazia parte da “base aliada” do governo, fosse ele de direita, esquerda ou centro. Usava com alguma parcimônia as mordomias que o cargo e a fama lhe proporcionavam, e era visto como um tipo mais ou menos estranho, com ideias fantasiosas e utópicas. Era um político mais ou menos folclórico como foram o homem da barba enorme, ou o do trem flutuante, o esportista e até o palhaço ou outras figuras que vendiam a imagem do cara que é diferente dos políticos, mas após eleitos faziam o pior tipo de política possível... Votava sempre com a maioria e quando se manifestava era para falar sobre algum passarinho, peixe, ou macaco em perigo. Seus discursos eram recheados de poesias e lendas sobre os bichos e plantas, que eram colocadas na grande midia como algo muito especial, muito pitoresco e simpático.
Porém após sua oposição ao IS-PSE algo muda na vida do Dr. Marco Justo Passos. Aos poucos passa a ser o deputado Marco Passos que apesar sempre ter sido apresentado como um político renovador, progressista e simpático passa a ter sua atuação criticada pelos grandes meios de comunicação. Grandes redes de Tv e redes de compartilhamento e de notícias da net passam a apresentá-lo como arrivista, aproveitador, suspeito de receber propinas, que se apresentava defensor da natureza e do ambiente em campanhas ridículas, retrógradas e sem sentido e agora para aparecer na mídia, ficava emperrando algo tão moderno e revolucionário.
Bem... então... então...
... O que vai acontecer com o nosso deputado????
O grupo internacional vai conseguir estabelecer-se?
Será que vão construir o que pretendem???
Bem, caro leitor e elegante leitora.... eu já tenho uma ideia na minha vetusta cachola. Na realidade quando comecei escrever esta mirabolante crônica já tinha um final para ela, mas resolvi consultar meus sábio público.
Vejam que coisa moderna... a crônica interativa!!!
Assim peço a você que usa seus momentos de lazer para enriquecer o seu intelecto aqui neste portentoso blog... escreva aqui mesmo, ou mande uma mensagem por email, ou no facebook, dizendo como eu devo terminar esta eletrizante estória.
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