segunda-feira, 11 de julho de 2016

O ALMOÇO COM O MOTORISTA

                            O TIO DO UILIÃO

       Conheci o Uilião quando ele ainda era garoto. O pai fez o encanamento da casa onde morei,  e uma irmã foi babá de meus filhos do segundo casamento. Vieram do sertão de Minas e se instalaram numa fazendinha semi abandonada. Acontece que o dono morreu e eles foram ficando por lá, construíram um barraco, depois uma casinha e ainda não tinha aparecido ninguém para revindicar a propriedade do lugar que é bem bonito. Tem até um laguinho e um insólito portal japonês no meio da mata.
         A primeira vez que apareceu na minha casa ainda chamava Uílliams, assim mesmo, com U no começo, acento no í e dois "eles". Logo que tirou seus documentos, gostava de mostrar para a gente ver como escrevia seu nome. Ia lá para acompanhar a irmã, gorducha comilona, muito sorridente, que às vezes tomava conta de meus filhos quando eu saia com minha ex mulher. Era um rapazola bonito, forte, alto, um tanto quanto acanhado, que ficava super sem graça quando minha ex aparecia toda exibida, se divertindo em provocar o garoto.
         Bem, o Uilião foi crescendo, virou homem, mas apesar de trabalhar como telhadeiro e pegar umas empreitas de construção achava bacana assumir uns ares de malandro, e passou a queimar fumo e cheirar pó. Logo ficou com fama de bandido, mas fora consumir drogas eu nunca soube que tivesse feito algo  que justificasse tal fama.
         Depois de  adulto virou um cara altão forte, que fazia sucesso com as mulheres, muito simpático e brincalhão. Quando aparecia em casa já ia pegando meus filhos nas costas e saía carregando eles para lá e para cá como se fossem uns brinquedinhos. Era um bom carpinteiro e quando queria, trabalhava bem com madeira bruta, mas muitas vezes aparecia para fazer o serviço completamente chapado e dava umas tremendas mancadas.
         Eu contratei o Uilião para reformar um barracão, que ele mesmo tinha construído na minha casa há alguns anos. Era feito com madeiras do mato e eucaliptos, e por causa de umas traves que cederam estava com problemas de goteiras  precisando de um bom trato. Num belo dia, lá estava ele e sua equipe de malucos trabalhando e quando chegou a hora do almoço o Uilião me convidou para ir numa churrascaria rodízio onde a dona gostava dele e lhe dava um bom desconto desde que, ele ficasse com ela... e aí já aproveitou para se gabar que a a dona era gamadíssima porque ele fazia isso e aquilo...     
         Eu fiquei assim na dúvida..
         - Vamos, meu... O meu tio está lá na cidade, ele está velhinho sabe, quero ver se acho ele lá no posto onde... ai aproveito para encontrar com o cara que me arruma farinha.
         - Olha Uilliams... eu estou fora dessa. Não quero saber dessa estória de dar dinheiro pra bandido traficante... eu hein!!! E essa coisa de farinha vicia.
         - Ah meu, viciado... isso é encanação tua. Pó não mata ninguém...
         - Olha, não sei se mata, mas é uma brincadeira muito perigosa e vicia sim... é aquela coisa gostosa que te joga pra cima, mas acontece que é uma viagem que vai ficando cada vez mais curtinha, com uma ressaca cada vez maior... aí você começa pegar sempre mais  e entra numa roda filha da puta... É ou não é?!
         Ele ficou calado um tempinho e perguntou... Afinal você vai ou não vai?  Olha quer saber eu vou, mas não quero ver o teu lance da farinha, tá bom???   Falou...
         Mal entramos no carro dele, um desses carrões antigos cheio de luxos, mas caindo aos pedaços, já começou a contar da fulana com quem estava transando, do marido dela que estava desconfiado e se descobrisse ia matar os dois, da viagem que tinha feito com a fulana que trepava como  louca porque o marido era meio brocha e que...
         ... e eu achando que era tudo papo dele para se mostrar, mas aí ele abre o porta-luvas e mostra um revólver embrulhado num pano.
         - Pô Uilião! O que é isso meu! Você tá ficando louco meu, assim alguém te pega mesmo! Aliás tá ficando, não... Já está completamente maluco! Andar armado!!!... Olha você sabe que cara armado acaba enfrentando coisas que não iria enfrentar e assim a  chance de se foder só aumenta! Cara! Pensa na tua família... tuas filhinhas tão gracinhas.

         - Olha meu, eu ando por umas quebradas que se não tiver um berro ninguém respeita. Entro nos piores lugares daqui! Pô meu... você sabe o que tem de bandido por essas quebradas.
         - Bem... sei lá. Mas vê se manera porque...
         - Ih, cara! Não esquenta. Você sabe que não sou de me meter em confusão.
         - Ah!! Estou vendo!!! Essa foi boa...
         Caramba, pensei... "eu me meto em cada uma. Agora vou ficar zanzando de lá pra cá, com esse maluco que parece que virou bandido mesmo. Bom o negócio é relaxar. Acho que ele vai atrás do tio... então não é hoje que ele vai se ferrar. Aí seria o maior azar..."
         Só que, para complicar mais ainda, ele acendeu um charo... -  Ó dá um pega aí meu!
         Então eu até dei um tapinha de leve, só pra dar uma onda... uma boa relaxada. No fundo eu sabia que apesar de um tanto quanto desvairado, meu amigo me respeitava muito e não ia me por numa fria. Mas as conversas dele eram de arrepiar os cabelos de um careca!!! De repente ele me sai com essa...
         - Olha.. Estou pensando em assaltar um carro forte... tem um que passa por aquela estrada super estreita perto da...
         - Agora você está tirando uma da minha cara... Um carro forte, meu!
        - É isso mesmo, pô! Tem uma curva bem fechada, ao lado de um barranco cheio de mato. É só deixar um tronco bem grosso de eucalipto amarrado em cima, e quando ele passar a gente corta a corda e Plam! Cai bem em cima... quero ver se abre ou não abre a porta daquela porra!!!

         - Sim  sim... E os caras vão abrir a porta e dizer entre por favor, a gente não vai fazer nada. Pô meu!!!... se fosse tão fácil...
         - ... mas lá dentro tem uma puta grana, que dá pra viver o resto da vida com ela.      
         - é... provavelmente as notas estão numeradas, marcadas.. olha Uílliams, se você quiser ganhar dinheiro roubando, tem que roubar de pobre porque rico sabe se defender muito bem.! Você só vai se ferrar... entra em cana na primeira...
         - Pô meu, mas aí é sacanagem... roubar de pobre é muita sacanagem... Qual é?!
         - É mesmo... mas  é assim que as coisas funcionam. E é assim que os caras ficam ricos! Não é como os bancos fazem?! Usam o dinheiro de todo o mundo pagando uma merreca, e quando emprestam metem um juro lá em cima!
         - Ih cacete! Lá vem você com essas ideias meu... e, porra! Você acha que eu vou entrar numa dessas? Assaltar um carro forte... Tenha dó. Precisa de um canhão!! E.. Pô, qual é? Você leva tudo a sério cara!...
         A nossa conversa era sempre assim, meio estapafúrdia, porque ele apesar do pouquíssimo estudo era um cara bem inteligente e muito ativo, sempre inventando e procurando coisas novas. Gostava de perguntar... e a maioria das vezes prestava bastante atenção quando eu falava de alguma coisa que ele não sabia. Vivia viajando com esses carros arrebentados, pegava trabalho em lugares distantes e quase inacessíveis. Mas com certeza o Uilião era um sujeito que dava o maior trabalho para o seu anjo da guarda, sempre aparecia machucado. Tinha a mão toda lanhada, faltando a ponta de uns dois ou três dedos que tinha perdido nas máquinas.
         Andar de carro com ele guiando era assustadoramente surrealista... Saía na maior disparada. De repente via uma  mocinha bonita num ponto de ônibus, parava na frente e falava aquelas gracinhas idiotas para ela. E eu, no lado do passageiro ficava bem na cara da garota, sem saber o que fazer, com o cabeção dele quase esfregando no meu nariz. Acho que fazia de propósito, para me provocar ou me deixar sem graça.
         Bem, finalmente paramos junto a um quiosquezinho bem simples feito de tábuas sem pintura, que vendia refrigerantes e pacotes de salgadinhos. Nem preciso dizer que meu amigo conhecia toda a família da vendedora com carinha meio sem vergonha. Ele chegou dando risada e ia começar a chavecar a moça quando...
         - Olha lá o meu tio, olha ele lá! Perto do ponto de ônibus!
         - Onde? O que tá de bonezinho verde?
         - Não o outro, de cabelo bem branquinho. Tá vendo? Trabalhou tanto que pirou, tá meio maluco.
         Era um mulato escuro de bigodinho bem fininho, com cara de bonzinho e um ar tranquilamente cansado.
          O Uilião já chegou falando muito. Oi tio, como vão as namoradas... e o velho olhava pra ele meio espantado, parecia que não tinha reconhecido o sobrinho, que despejava um monte de bobagens na cabeça do coitado, falando de farras e se ele não queira fumar um...  O velho só olhando, mas de repente perguntou onde era a churrascaria.
         Íamos andando até o carro e num momento em que o tio se afastou um pouco, o Uilião me contou que o tio Julio era motorista de ônibus... Sabe ele comprou um terreninho, aí resolveu fazer uma casinha, aí dava montes de horas extra... trabalhou tanto para pagar que pirou. Foi ficando esquecido, e não conseguia falar, ou melhor tentava falar mas só balbuciava coisas que ninguém entendia. Os amigos e a turma do emprego ficavam caçoando dele, até que ele conseguiu uma licença e foi se tratar. Mas como era velho aposentaram ele da direção. Só ia lá na garagem e ficava à disposição para fazer o que pudesse.
         Entramos numa churrascaria rodízio na beira da estrada, tomamos aquela pinguinha e sentamos perto de uma televisão. O tio Julio desatou a falar e não parava mais. Era desdentado e ia falando enquanto comia deixando escapar um monte de perdigotos. Contava casos de pessoas que evidentemente eu não sabia quem eram e a Tv ligada atrapalhava mais ainda. Consegui entender que estava com problemas de vista. Disse que não conseguia entender os números, olhava para o jornal  e também não entendia, porque as coisas ficavam partidas horizontalmente. Repetia a mesma coisa várias vezes fazendo um gesto horizontal com a mão para explicar como via tudo pela metade. E então reclamou que era muito chato ficar na garagem bater o cartão e zanzar de um lado para o outro. Aí falou que tinha umas carteirinhas... Carteirinhas, seu Julio?... É carteirinhas aqui comigo. E abriu a carteira soltando fluxos de farofa enquanto tentava explicar procurando as carteirinhas, que eram semelhantes a cartões de crédito. Essa aqui azul é do sindicato, serve para viajar, posso tomar qualquer ônibus, para qualquer lugar do país, e posso levar outra pessoa sabe, pra cuidar de mim...  
         - Olha aí, Uilião... você que gosta de viajar pode levar o tio Julio... Vai viajar com ele, meu.        
         E os dois começara a dar muita risada, falando que iam viajar pelo Brasil inteiro e pegar tudo quanto era mulher e aquele monte de bobagens.
         E eu que nunca havia conversado mais de trinta segundos com um motorista de ônibus almoçando com tio do meu amigo! Um velho meio despirocado, que só estava por ali porque era greve dos motoristas e a garage onde ele trabalhava estava fechada para evitar confusões.
         De repente... Eu mal acreditei no que estava aparecendo na TV do restaurante...  
         Uma reportagem sobre a greve dos ônibus!! As estações vazias, congestionamentos gigantes... imagens de helicóptero que mostravam um lugar onde havia uma barreira de pneus pegando fogo como protesto que fizeram numa rodovia...!!!
              Realmente, uma coincidência incrível!

domingo, 3 de julho de 2016

CRÔNICA INTERATIVA - e os caranguejos???

e os caranguejos???
     Prezadas leitoras e leitores... reescrevi a história que inventei sobre as agruras pelas quais um deputado ambientalista passou.
     Para os que já leram fica aqui o aviso de que não mudei muito os fatos, nem os vários finais que estão à disposição de meu sábio e seleto público...



            Marco Justo Passos é um exemplo de que com bastante esforço é possível superar problemas de berço. Nasceu no litoral do sudeste  brasileiro, num quilombo bastante afastado de qualquer cidade, filho de pais pescadores. Era muito bem dotado fisicamente, e além disso, desde pequeno sempre foi super ativo. Dormia pouco, mas profundamente, e quando estava acordado, Justinho não conseguia parar quieto, tinha uma reserva de energia impressionante. Por uma questão de sobrevivência familiar era muito requisitado para ajudar nas plantações. Mas na pesca a coisa era mais complicada, sempre acabava recebendo alguns safanões porque não aguentava ficar parado no banquinho. Por outro lado remava a canoa caiçara com uma presteza remarcável.
            Devido à insistência do pai, ele se dedicou aos estudos com bastante seriedade, e aos dezoito anos foi prestar vestibular na Usp, infelizmente foi reprovado. Mas resolveu não voltar para casa. Conseguiu emprego de ajudante num hotel chique onde até lhe arrumaram um cantinho para dormir. Passou o ano trabalhando e estudando até que finalmente prestou novos exames. Não foi muito brilhante, mas beneficiado pela política das cotas, conseguiu pegar a última vaga no curso de biologia.
            Seus primeiros tempos na faculdade foram um tanto quanto complicados, mas com a graninha, que conseguira juntar pagou alguns meses por uma vaga de pensão vagabunda num bairro pobre mais ou menos perto, até conseguir vaga no conjunto residencial da cidade universitária. Era moço simpático, bonito, falava pouco, e principalmente, evitava qualquer discussão, mesmo que fosse sobre futebol, o que o tornou bastante popular.
            No decorrer do curso, Marco, como Justinho gostava de ser chamado, percebeu que tinha uma afinidade maior com as disciplinas mais voltadas à natureza, do que com os aspectos mais ligados à tecnologia de ponta, talvez por ter passado sua infância quase como um índiozinho, andando descalço e semi-nu, correndo no meio do mato, lidando com animais domésticos, pescando. Percebeu com espanto que muitos de seus colegas, futuros biólogos, nunca tinham visto algum bicho que não fosse gato ou cachorro e se horrorizavam ao manusear um sapo, ou um inseto, mesmo que estivesse conservado em álcool ou formol.  Foi assim que se identificou com as pessoas ligadas ao estudo do ambiente, e trabalho de campo... os ecologistas, os botânicos, os zoólogos e viu que o ambientalismo seria bom campo para se desenvolver profissionalmente.
            Logo que se formou, conseguiu estágios e bolsa de estudos num instituto ligado à área de biologia marinha, oceanografia e pesca, que ficava relativamente próximo de onde tinha nascido.
            Para encurtar a história, Marcos já contratado como funcionário concursado, passou realizar estudos numa área de mangue, muito pouco conhecida, onde havia se aventurado algumas e raras vezes com sua canoa, quando ainda morava no quilombo. Percebeu que o fato do lugar ser inexplorado poderia fornecer muito material para produzir e publicar inúmeros trabalhos científicos. Com apoio da instituição onde trabalhava, fez mestrado e doutorado acabando por se tornar um especialista conhecido até no exterior... o Ilmo e Exmo. Prof. Dr. Marco Justo Passos.
Dr. Passos havia descoberto e identificado algumas espécies de animais marinhos que,  ao que parece, só habitavam nessa área, uma das últimas realmente bem preservadas de toda costa brasileira. É um lugar de acesso extremamente difícil, longe da rodovia, numa região muito acidentada cujo acesso é bastante complicado mesmo por barco .
O Saco do Escuro é uma pequena baia cercada de dois penhascos rochosos, numa espécie de península que sai da Serra do Mar. Imagine, minha caríssima leitora e meu simpático leitor, um gigantesco dedo rochoso de uns quatro quilômetros de comprimento, apontando para o oceano Atlântico, com mais ou menos um quilômetro de largura, e uma altura de uns trezentos metros, entrando mar a dentro. Na parte lateral desse dedo uma enorme fenda, formando uma  pequena enseada limitada pelos penhascos, com esse o nome nada convidativo... 
Saco do Escuro! 
Quem vem pelo mar, encontra na frente do Saco do Escuro uma formação de rochedos formando uma intricada barreira composta de recifes recobertos de corais, ostras e cracas, que complica bastante a passagem para a praia das Ripas. O lugar é incrível... realmente tenebroso. A chegada de barco após navegar paralelamente a esse gigantesco dedo... esse sinistro costão... é assustadora.  O intrépido marinheiro se depara com uma espécie de falésia, onde a rebentação forma uma linha branca em contínuo movimento,  e além do fluxo e refluxo das ondas existe uma correnteza violentíssima e traiçoeira. O Saco do Escuro fica dentro da fenda, limitada por dois morros com encostas rochosas quase verticais e o intrépido mal consegue divisar além dos rochedos espumantes a linda e mítica Praia das Ripas, cercada pela Mata Atlântica.
No meio desses dois montes íngremes, existe um vale onde deságua um riacho, que por um capricho da natureza nasce nas encostas da Serra do Mar, e após serpentear por cima do dedo acaba se despejando em forma de uma cachoeira, no fundo dessa fenda. Na época das grandes chuvas de verão, a água que vem da Serra aumenta muito, carrega grandes quantidades de material que sedimentou no inverno, e o deposita na baia. Esse material ajuda na formação e manutenção de um mangue de características únicas, daí a existência de espécies tão diferentes.
A espécie que ficou mais famosa foi um pequeno caranguejo que tem um estranho comportamento. Os caranguejinhos ficam fazendo bolotas de detritos e lama que atiram uns para os outros. Um faz uma bolinha, atira para o outro que pega a bolinha no ar, e aparentemente a reconstrói passando na boca. Rola a bolinha por um tempo e a atira para algum outro caranguejo que se aproximou e esperou atentamente a atividade do companheiro..
Dr. Marco Justo Passos descreveu a espécie e a denominou de Gilmarius taffarelicus em homenagem a grandes goleiros de seus tempos de juventude. Essa piadinha o tornou bastante conhecido, com entrevistas em Tvs, rádios, jornais e revistas. E como Marco se tornou um ferrenho ambientalista e preservacionista acabou sendo eleito deputado estadual, apoiado por os setores ligados aos ideais de respeito à natureza, e defesa do ambiente.
       Mas o Saco do Escuro começou a ficar famoso pela sua beleza estonteante, sua fauna e flora excepcionais passando a atrair aventureiros por terra e por mar. Fizeram uma trilha que desce ao lado da cachoeira. Trata-se de uma trilha muito perigosa onde se torna necessário o uso até de equipamentos para alpinismo, cujo final termina num brejo, um mangue pantanoso enorme e traiçoeiro, que faz o acesso a à praia das Ripas quase impossível por terra. Contam até que já morreram alguns aventureiros imprudentes... 
A insólita e misteriosa Praia das Ripas é cortada, perpendicularmente ao litoral, por faixas de rochas, e em cada um dos espaços entre as faixas a areia tem cor e textura diferente.
            Bem, um lugar como esse não poderia deixar de atrair turistas estrangeiros, que de tempos em tempos arriscam seus iates mirabolantes, ancorando-os próximo aos recifes e tentam chegar até essa estranha praia com seus botes infláveis.
Mas então, surgiu no cenário a International  Society pela Preservação do Saco do Escuro (IS-PSE), uma associação internacional com esse estranho nome, que conseguiu ser indicada tutora de todo o lado sul da península, onde se encontra a baia do Saco do Escuro, por um organismo ligado à ONU. Num gesto surpreendente o governo brasileiro apoiou a decisão, aceitando a IS-PSE como sendo de utilidade pública. Imediatamente a coisa foi parar no congresso e começou uma grande discussão nas redes sociais, com uma boa dose de noticias falsas e alarmantes...
Como era mais ou menos esperado, o deputado Dr. Marco Justo Passos, imediatamente colocou em dúvida a constitucionalidade de se permitir uma associação internacional tutelar uma área do litoral brasileiro. Pediu uma investigação ao Ministério Público e veio à tona que essa associação pretendia instalar um deslumbrante hotel e alguns pequenos e luxuosíssimos condomínios que seriam vendidos a preços descomunais, acessíveis apenas para pouquíssimos megamilionários. O projeto era caríssimo moderníssimo superlativíssimo. Realmente a ideia básica era de preservar ao máximo para o deleite de pouquíssimas pessoas, mas com certeza a construção, utilização e manutenção dos edifícios traria uma grande perturbação a um lugar considerado santuário ecológico, por toda a comunidade científica internacional.
 Pretendiam abrir um canal entre os recifes e criar uma marina ampliando as espantosas e misteriosas cavernas existentes na base de um dos paredões rochosos que despencavam sobre o mar, onde estacionariam seus barcos. Para a construção de tal paraíso seriam utilizados desde raios laser até estruturas de fibra de carbono, conversores solares e outras maravilhas desenvolvidas especialmente para o projeto, que desta forma também se apresentava como uma espécie de ambiente de pesquisas tecnológicas.
            Assim que soube do projeto, o deputado Dr. Marco Justo Passos colocou-se contra e levou o caso até o Congresso Nacional liderando uma campanha para impedir qualquer mudança na legislação ambiental da área do Saco do Escuro feita no intuito de permitir a realização de tal empreendimento.
            Marco se elegera entrando num partido de pequena expressão, que sempre fazia parte da “base aliada” do governo, fosse ele de direita, esquerda ou centro. Usava com alguma parcimônia as mordomias que o cargo e a fama lhe proporcionavam, e era visto como um tipo mais ou menos estranho, com ideias fantasiosas e utópicas. Era um político mais ou menos folclórico como foram o homem da barba enorme, ou o do trem flutuante, o esportista e até o palhaço ou outras figuras que vendiam a imagem do cara que é diferente dos políticos, mas após eleitos faziam o pior tipo de política possível... Votava sempre com a maioria e quando se manifestava era para falar sobre algum passarinho, peixe, ou macaco em perigo. Seus discursos eram recheados de poesias e lendas sobre os bichos e plantas, que eram colocadas na grande midia como algo muito especial, muito pitoresco e simpático.
            Porém após sua oposição ao IS-PSE algo muda na vida do Dr. Marco Justo Passos. Aos poucos passa a ser o deputado Marco Passos que apesar sempre ter sido apresentado como um político renovador, progressista e simpático passa a ter sua atuação criticada pelos grandes meios de comunicação. Grandes redes de Tv e redes de compartilhamento e de notícias da net passam a apresentá-lo como arrivista, aproveitador, suspeito de receber propinas, que se apresentava defensor da natureza e do ambiente em campanhas ridículas, retrógradas e sem sentido e agora para aparecer na mídia, ficava emperrando algo tão moderno e revolucionário.

Bem... então... então... 

... O que vai acontecer com o nosso deputado????

O grupo internacional vai conseguir estabelecer-se? 
Será que vão construir o que pretendem???

Bem, caro leitor e elegante leitora.... eu  tenho  uma ideia na minha vetusta cachola. Na realidade quando comecei escrever esta mirabolante crônica já tinha um final para ela, mas resolvi  consultar meus sábio público.
Vejam que coisa moderna... a crônica interativa!!!

Assim peço a você  que usa seus momentos de lazer para enriquecer o seu intelecto aqui neste portentoso blog...   escreva aqui mesmo, ou mande uma mensagem por email, ou no facebook, dizendo como eu devo terminar esta eletrizante estória.