quarta-feira, 26 de outubro de 2016

QUEM BEBE É O VINHO....

        





            Outro dia estava conversando  com meu querido filho Tomás sobre degustação de vinhos.  Ele me contou que vários vinhos nacionais ganharam prêmios ou foram muito bem classificados em degustações feitas às cegas, isto é com os rótulos cobertos, um deles é um vinho dos mais baratos, que se acha facilmente nos mercados. Comentei que participei de um grupo de donos de restaurante que se reunia aos domingos depois do exaustivo fim de semana, para degustarmos vinhos. Cada noite a reunião era feita num restaurante, e os participantes deveriam levar um tipo de vinho, com alguma característica interessante. Mas percebemos que os julgamentos eram fortemente influenciados pelo rótulo, país de origem e principalmente pelo preço.  E na reunião seguinte trouxemos os vinhos com papelotes e fitas crepes em tudo o que pudesse identificá-los, e não deu outra.... o vinho mais apreciado foi um nacional muito despretencioso...
         Hoje, apesar da estreiteza financeira na qual me encontro, resolvi comprar uma garrafa do vinho citado pelo Tomás, o tal quinto colocado,  para acompanhar meu almocinho dominical, quando mesmo estando solitário, faço questão de dar uma caprichadinha.           .          Preparei um drinquezinho com uma velha vodka russa, e caprichei num salmão com um molho de ervas frescas do meu canteiro. Gosto da combinação peixe com vinho tinto, justamente pelo fato do peixe ter um paladar mais delicado do que uma macarronada, ou um assado cheio de temperos.
         Êta drinque gostoso!!!... Acho que vou fazer mais um... só meia dose...
         Então pra compensar a ausência de alguma companhia interessante resolvi caprichar...
         Arrumei a mesa com uma velha toalha bordada, e uma linda taça de cristal, relíquias dos bons tempos, e para começar o almoço acabei com o finzinho de um chileno bastante razoável, trazido por um amigo, que estava na geladeira (quem estava na geladeira era o vinho!!!). Ora ora... upsz!!
        Ôba chegou a hora do quinto colocado...
         Quando sorvi o primeiro gole desse  cabernet, senti aquela explosão na boca que só um bom vinho oferece. Mas foi uma explosão chuááá... não foi pôu!
         Agora que estou no fim do segundo copo percebi hic o seguinte hic...
         Há um termo que os enólogos usam para um vinho muito suave... é o vinho chato... o vinho sem acidez, sem amargos, gostosinho, levinho... um vinho diminutivo. Acho que é chato no sentido de ser algo plano, sem arestas  nem contornos.... Hic...
         Então resolvi atribuir aspectos geomorfológicos a essa bebida  hic... amazing feita de suco uvas estragado.Um caldo preparado com requintes absurdos e que adquire sabores que tem literalmente enebriado a humanidade durante séculos... milênios... É a turma pisava com os pês sujos e depois esperava tudo aquilo apodrecer.  Mas o resultado é muuuiiito bom!
       O vinho tem que ter presença, corpo, sabores fortes e intensos que lhe dão personalidade, que o diferencie de bebidas vulgares. Tem que nos desafiar pelas suas qualidades, pelos seus sabores acentuados e marcantes... até desafiadores como os ácidos e os amargos, fundamentais para a soma sensorial...
            Mas tem que ser harmonioso, interessante, belo e prazeroso.
           Poesia?!  Não sou poeta, mas... 
         Podemos imaginar uma paisagem e tentar compará-la com o  vinho que sorvermos e saboreamos. Imagine uma planície com pequenas elevações, sem quase nenhum obstáculo, apenas alguns morrinhos... muito fácil de percorrê-la, sem surpresas, nem canseiras... plana, chata!        
           Nunca pratiquei o alpinismo, mas parece que quanto maior o obstáculo, maior o prazer de desfrutá-lo.
         O bom vinho tem picos, vales, crateras, vertentes e ao assimilá-lo teremos uma paisagem deslumbrante.
        
         Então viajei mesmo e fiquei pensando.... e resolvi sentar no compuuutador.... hiiii, sentar no computador não. Olha vc entendeu, não? Então...  
            Hic... ufff... ainda consigo dijitar... digitar...
         Talvez as mulheres poderiam entrar nesse contexto... numa comparação um tanto absurda, mas como já estou acabando o segundo  começando o terceiro, copo, taça. Não bebo vinho em copo. Peço paciência às minhas elegantes leitoras, e não.. por favor não me julguem apressadamente.
         Trata-se de uma meeta... metáfora, como a do outro poeta um tanto alcoolizado que disse que a mulher é uma rosa. Hiiic...
         
            Esse teclado se mexe muito, fica virando. Pára! pô!

              Ó você aí que está me lendo, pensa comigo ó...
         É o zzzzeguinte... imagina uma mulher plana, insosa, suave, gostozinha, lindinha, levinha... uma mulher diminutiva. Talvez faça muito sucesso no balcão dos mercadinhos e cardápios de restaurantes... os restaurantes da vida... por quilo. Padronizados, tudo como mesmo sabor. Uma planície...ou  uma praia sem montanhas, sem matas... nem vento, nem ondas, nem sustos nem surpresas.
         Plana... chata?!
         Eeee puzzzeram pouco vinho nessa garrafa, meu, Acabou!!
        Peraí... tem mais uma... o duro é segurar o sacarrolha e virar a garrafa, quer dizer segurar a garrafa e torcer a rolha.... ah... você entende. O barulhinho que faz o vinho quando a gente põe o primeiro copo... junto com o cheirinho... 
         
          O que eu estou querendo...  bem...  a grande mulher...  é como o  grande vinho.
         
          Tem que ter presença, corpo, opiniões fortes e fundamentadas. Tem que nos desafiar pelas suas qualidades, pelos seus sabores acentuados e marcantes... Até desafiadores como os ácidos e os amargos, fundamentais para a soma sensorial.
         Mas aí... Hiii!!! zzzzzzóoo tem um pequeno detalhe...
         O bom vinho, o vinho excepcional... eu vou lá, compro bebo e fim.

         Mas essa grande mulher... ufa! Tenho que conquistá-la, merecê-la, e.... infelizmente é o zzzzzeguinte ó... a maravilhosaaa  a... a...   sonhei com ela a vida inteiraaaa...  zzzz
         
           A grande... aquela... é ela que escooolhe quem vai beber....!!!

         
           Oôôôopaa o teclado eeezzzztá ezzzgorregando.


        Quando acordei, estava debruçado sobre a velha escrivaninha de tampo de embuia, cheio de marcas do tempo. Antes de apagar  devo ter empurrado meu enésimo notebuk de modo que foi uma certa surpresa deparar com esse texto.  
            Então... agora, nem vou pensar muito...     Quer saber??... vou publicar (tornar público) no meu portentoso blogghh.



          


6 comentários:

  1. Dario,
    acho que você vai levar uma cacetada de alguma das suas amigas por comparar mulher com vinho....
    Mas, gostei do texto. Durante os longos anos que vivi na Alemanha, tomava principalmente vinhos espanhóis, especialmente de Rioja. Eta saudades dos porres intelectuais. Os piores vinhos eram os franceses, apesar da fama.

    Abração, Clemens

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    1. Nada de cacetada comparando mulher com vinho ... use a imaginação Clemens . Interessante seria tambem fazer a comparação homem e vinho......Abraço , Ana

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    2. Nada de cacetada comparando mulher com vinho ... use a imaginação Clemens . Interessante seria tambem fazer a comparação homem e vinho......Abraço , Ana

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  2. ADOREI seu texto, Dario!Muitas passagens.... saborosas.

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  3. Oi Dario,

    Também adoro tomar vinho, mas escrever um texto tão interessante como este requer um talento grande! Bravo!

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  4. Olha que eu já tomei muito vinho na vida... Sei o que você quer dizer... E gostei muito da comparação entre mulheres e vinhos... Principalmente quando você diz que ela é quem escolhe quem vai beber. É isso mesmo.

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