O
CASAMENTO NA ALEMANHA
A história que vou contar se passou com meu famoso amigo
Edward Lugnerinzky Stillinger, no começo da década de 70.
O Edward ganhou uma
bolsa de estudos e foi para a Alemanha, onde sua vida mudou radicalmente, pois
foi lá que descobriu sua verdadeira vocação. Mas, apesar de ser um sujeito
aventureiro, boa pinta e extremamente simpático, morria de saudade de sua
namorada, a fascinante Betanhia, mineira do vale do Jequitinhonha.
Conheceram-se no
último ano da faculdade de arquitetura e logo se apaixonaram passando fins de
semanas românticos na chácara de um amigo, lá para os lados da Cantareira.
Edward gostava mesmo é de escrever, mas trabalhava num escritório de design e
Betanhia (é... registraram o nome da menininha assim, errado mesmo) era
desenhista numa construtora, que cresceu rapidamente, vendeu montes de
apartamentos e sumiu. Mas o clima da ditadura os oprimia demais, o que levou
Edward, que falava alemão em casa com seus pais, pedir e conseguir uma bolsa de
estudos na Alemanha. Foi para uma cidade onde havia uma tradição na área de
projetos industriais, não me lembro se era Frankfurt, Hamburg, Wurstsenfburg
ou... mas era algo relacionado com sanduíche, uma bela coincidência, já que a
família da mãe dele era de Bauru...
Edward já havia
publicado algumas crônicas em jornais estudantís, e estava escrevendo para um
semanário do ABC. Betanhia apesar de desempenhar uma função quase burocrática no seu
emprego, adorava vigas em balanço e estava sempre a inventar estruturas
gigantescas provavelmente impossíveis de serem construídas. Ela era, no mínimo,
um tanto despirocadinha, sempre com umas ideias meio estranhas...
Em princípio iriam
juntos, mas antes ela resolveu visitar seus parentes, pessoas extremamente
conservadoras, de um ramo decadente de uma família que havia sido bastante
importante na região atualmente bastante pobre do Vale do Jequitinhonha. Aí a
coisa se complicou, porque ela não tinha coragem de dizer que iria morar com seu
namorado, mas também não conseguia inventar uma história, uma mentira qualquer.
Achava que mentir para os pais daria azar... que o casamento podeira dar
errado... que poderia acontecer uma tragédia. Então lá se foi o Edward, sozinho
para sua... sei lá o nome da cidade, talvez Cheeseburg. Ele era um sujeito que tinha,
e ainda tem, uma capacidade de adaptação incrível. Nunca esquentava a cabeça,
tinha certeza que tudo daria certo e partiu pronto para o que desse e viesse.
Mas a Betanhia era um mulherão, e Edward começou a ficar com muitas saudades
sua linda mineirinha, e escrevia inúmeras cartas apaixonadas pedindo para ela ir
encontrá-lo.
Passado um ou dois
meses Betanhia conseguiu convencer a família que ao chegar lá na Alemanha a
primeira coisa que faria seria casar com seu amado Edward, que aceitou a ideia
de bom grado, já que seus pais haviam casado inúmeras vezes, e como ele tinha
uma bela coleção de padrastos e madrastas o casamento para ele era uma
formalidade um tanto quanto passageira.
Betanhia chegou lá
em Wurstsenfburg (ou Fleishwurstburg) com um monte de papeis para casarem no consulado brasileiro
da cidade. Acontece que o cônsul efetivo estava de férias e o vice-cônsul que o
substituía viu uma boa oportunidade para dar uma super festa.
E para surpresa do
casalzinho do interior de Minas, assim que acabaram as formalidades burocráticas
o local ficou entupido de um montão de gente, a maioria gays, lésbicas e
simpatizantes numa belíssima festa para ninguém botar defeito, que ficou falada
na região durante um bom tempo.
Bem, passaram-se
vários anos. Edward trabalhou em vários jornais alemães, mandou artigos para
publicações alternativas de vários países latino-americanos, e já estava
esboçando seu mais famoso livro que escreveu assim que as coisas melhoraram por
aqui. Finalmente o casal resolveu voltar para a terrinha natal e como tinham
uma boa bagagem vieram de navio, onde travaram conhecimento com um alemão
naturalizado brasileiro, que jantava sempre na mesa deles, e conversa vem,
conversa vai, lá pelas tantas o Edward contou que morou lá em Bratwurstburger,
o outro disse que também passou uns tempos lá, e que havia acontecido uma coisa muito insólita.
- Lembro que tive
que ir ao consulado brasileiro e quando cheguei lá me avisaram que ira rolar
uma festa de casamento de uns brasileiros muito importantes.
- Importante!!??
Importante nada... Era só a gente que estava casando!!! O vice-consul só queria
um pretexto pra dar uma festa!!!
Mas as
coincidências desta estorinha não terminam aqui.
Lá nessa Sandwichburg existe uma
das maiores indústrias de artefatos de borracha e similares do mundo, onde o
Seu Fritz Stillinger, o pai do Edward, que era um técnico extremamente
competente nessa área de borrachas, estava desenvolvendo um importante projeto.
Seu
Fritz, um homem muito charmoso, bem conservado, saiu para jantar com uma amiga alemã, e foi parar num bairro não muito bem frequentado. Na saída do
restaurante, ao entrar no carro foi abordado por dois pouco simpáticos meliantes que
pegaram sua maleta de executivo, a bolsa da amiga, e se mandaram com o carro e
todos os documentos do Fritz, que foi parar no consulado só com a roupa do
corpo.
O funcionário, meio mal
humorado, ao atendê-lo começa a série de perguntas... se ele tinha algum parente na cidade... o que
fazia lá naquele lugar... se sempre andava assim de madrugada... se... Finalmente
pede o nome completo do Seu Fritz.. De repente, o escrevinhador um tanto desconfiado parou,
ficou pensando e...
- Olha eu já ouvi
esse sobrenome... Espera aí!!! Me lembrei! Foi numa festa de casamento que
deram aqui para uns artistas brasileiros, a maior festança, foi incrível! Justamente... o noivo tinha esse nome!
- É isso mesmo!!
Meu filho casou aqui! O Edward!!! Mas a festa foi assim, tão... ??
Só que o
funcionário ficou mais desconfiado ainda. Pediu o nome dos noivos, mas
o Seu Fritz não sabia direito o nome completo de sua ex nora, nem a data exata
do casamento.
- Olha moço... já
se passaram uns dez anos, Edward e Betanhia tiveram um casal de gêmeos, já
estão separados...
Finalmente o
homenzinho ranzinza acaba concordando em fazer os documentos novos, mas dispara
a pergunta...
- Mas, por que
tinha tanto gay naquela festa??? Uma moça tão bonita... casar com um gay???!!!
- Mas meu filho?!
Gay?
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