a foto do pianista
Miriam, minha irmã quatro anos mais velha do que eu, estava fazendo o primeiro ano do curso Clássico, que era o terceiro ciclo para os jovens que queriam fazer carreira nas áreas humanas. Um dia ela apareceu em casa toda entusiasmada contando que o professor de canto, um velho chato, perguntou se tinha alguém na classe que sabia tocar piano, aí então, um garoto foi lá e mandou ver num noturno de Chopin, que deixou o professor embasbacado. O professor e o resto da classe...
Minha mãe, diplomada no curso de pianista
do Conservatório Dramático e Musical, passava horas e horas estudando
desvairadamente, escalas, sonatas, tocatas, noturnos... Quando a Miriam contou
a história, mamãe ficou muito curiosa e insistiu para ela convidá-lo para ir lá
em casa. E eu... Bem, eu achava que era exagero ou invenção da minha irmã...
Um belo dia, Miriam nos avisou que o
Caio ia estudar lá, e que finalmente poderíamos ver como ele era bom. E, no meio da tarde o rapaz aparece e ao primeiro pedido sentou no
banquinho nos deliciando ao tocar com perfeição e desenvoltura uma peça, dessas
bem complicadas, para o meu espanto e entusiasmo de mamãe.
- Caio!!! Você toca de verdade! você
tem muito talento! você tem tudo para ser um pianista de verdade! você...
- Ora, d. Ester... eu só toco, assim
por que... sei lá. Eu gosto muito, mas...
Bem, resumindo. Ficamos sabendo que devido à insistência dele os pais haviam arrumado aulas com uma grande professora de piano, apesar da má vontade do o pai dele, que achava que o Caio deveria ser advogado.
Aos poucos minha irmã formou uma roda de amigos da escola, que frequentavam bastante nossa casa, davam festinhas, iam passear, estudavam juntos... o Caio passou a ser um dos melhores amigos dela e estava sempre em casa. Era um sujeito muito divertido, bem educado e se ligava em tudo quanto era atividade cultural.
Bem, resumindo. Ficamos sabendo que devido à insistência dele os pais haviam arrumado aulas com uma grande professora de piano, apesar da má vontade do o pai dele, que achava que o Caio deveria ser advogado.
Aos poucos minha irmã formou uma roda de amigos da escola, que frequentavam bastante nossa casa, davam festinhas, iam passear, estudavam juntos... o Caio passou a ser um dos melhores amigos dela e estava sempre em casa. Era um sujeito muito divertido, bem educado e se ligava em tudo quanto era atividade cultural.
Durante os três anos que durou o curso
clássico estudava seriamente seu piano, sempre incentivado por mamãe que sabia ser
isso mesmo o que ele queria fazer na vida. Às vezes aparecia em casa, e mal
falava com a Miriam ou comigo. Ficavam lá, ele e mamãe, em volta do piano, discutindo
como tocar determinados trechos, ouvindo discos, e se divertindo muito com isso.
Minha mãe apresentou o rapaz a alguns músicos frequentadores de nossa casa, que
era uma espécie de clube de artistas e intelectuais paulistanos. Aos poucos, o
Caio foi se convencendo de sua condição de pianista, e começou tocar em
público, num princípio de carreira promissor, mas muito complicado. Mas....
Mas quando terminou o colégio, ele
chegou um dia em casa muito contrariado, porque o pai disse que ele precisava parar
de pensar tanto em piano e se preparar para entrar na faculdade de direito. E
naquela época, pai mandava, e fim de papo. Ele estava acabrunhadíssimo quando
disse para mamãe:
- Ah, dona Ester, vou ter que parar com
o piano, porque meu pai...
- Mas de jeito nenhum! – minha mãe nem deixou ele acabar de falar. - Isso não tem cabimento! Vou falar com seus pais! É um absurdo...
- Mas de jeito nenhum! – minha mãe nem deixou ele acabar de falar. - Isso não tem cabimento! Vou falar com seus pais! É um absurdo...
Não lembro bem, mas acho que realmente
minha mãe falou com os pais dele, mas não havia jeito, o pai estava irredutível.
Uma vez eu ouvi ela falando para ele,
mais ou menos assim....
- Olha você vai ter que se esforçar muito, fazer das
tripas coração, mas não pode de jeito nenhum largar a música. Além disso, você
é inteligente, gosta de ler... e também, pense que tem coisas interessantes no
curso... e um diploma universitário pode significar muito na sua carreira de
músico profissional.... e que um diploma
pode abrir portas para você dar aulas em outras faculdades... e que estão querendo abrir uma escola de artes na
Usp... e por aí a fora.
O fato é que ela convenceu o Caio, que
realmente se esforçou e conseguiu se formar advogado. Lembro dela estimulando,
insistindo e cobrando dele o empenho com a música.
A gente foi crescendo, viramos gente
grande, e o Caio ganhou um concurso internacional em São Paulo, que o consagrou
definitivamente. E assim, o menino, o simpático coleguinha de classe de minha irmã se
tornou um pianista famoso no mundo inteiro.
Nessa época eu trabalhava com
fotografia, apesar de ser biólogo e quase sempre que o Caio precisava de fotos
era eu que fazia, coisa que realmente me deixava muito orgulhoso. Fiz até uma fotos
muito interessantes e alegres, para uma capa de disco que acabou não saindo. Mas ele usou uma delas
recentemente, num CD para comemorar seu septuagésimo aniversário.
Acontece que um belo dia, tivemos a brilhante
ideia de fazermos umas fotos durante o concerto que ele ia dar no Municipal.
Ele me arrumou uma entrada para a
plateia e lá fui eu, todo engravatado, perfumado, penteado, munido de minha
câmara. Era uma Exakta, alemã, com objetivas ótimas, mas a parte mecânica era
bastante complicada e extremamente barulhenta.
Esperei o público entrar e percebi um
lugar vazio de onde teria um bom ângulo. Assim que ele começou tocar eu bati a
primeira foto, com um tempo de exposição relativamente longo e... clec zuiiimm plac... Esperei um pouquinho e novamente aquele disparador barulhento me
incomodou muito. Depois da terceira foto
pensei... Não dá... com essa máquina barulhenta, não dá!... um sujeito já tinha
olhado com cara feia. Parei.
Após o intervalo subi para um dos os
balcões apoiei a câmara na balaustrada e fiz umas poucas fotos, nos momentos
onde o piano era fortíssimo, ou quando o público batia palmas.
Terminado o concerto eu fui lá nos
camarins, onde havia toda aquela tietagem, as madames perfumadas, os senhores
engravatados, todo mundo lustroso e escovado. Fui me aproximando devagarinho, e
quando o Caio me viu, me chamou e disse.
- Ôô Dario!!! Que bom que você parou! Olha!!!
Você não imagina como o barulho da tua máquina me desconcentrou! Se você
tivesse batido mais uma foto eu ia ter que parar o concerto! Eu ia mandar você
parar!!!... Ainda bem! Mas que máquina mais barulhenta é essa, cara!
Ai demos risada e fomos comer a
tradicional pizza.
E eu pensando... Minha Nossa! Quase! Quase
estraguei um concerto no municipal!! Imaginem minha graciosa leitora e meu elegante leitor o vexame que seria levar uma bronca do
pianista... em pleno Teatro Municipal, o templo da música em São Paulo... cheio de gente conhecida... imaginem só!!!
Onde está a foto dele estudando piano quando era criança que você tinha?
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