sexta-feira, 7 de agosto de 2020

mais reminiscencias

assim vocês ficam me conhecendo...

          Já fazia uns dois anos que eu dava aulas de fotografia, mas ainda me sentia atraído pela USP onde tinha feito pós graduação e mestrado em zoologia. 
       Resolvi então fazer um doutoramento na ECA. Procurei os professores,  orientadores, administradores e etcéteras... e acabei me enfiando num curso de pós graduação em Linguística.
         Imagine só meu querido e desocupado leitor (ou leitora)... Imagine você, que me lê assim tão atenciosamente, o que é entrar numa aula onde o ilustre professor fala para pós graduandos, sobre um assunto do qual você não tem a mínima ideia do que se trata!
         Mas logo vi que o resto da turma não era tão sabida assim. Eram estudantes de vários cursos e uma boa parte também não entendia metade das palavras que o professor proferia com a maior naturalidade. Falava como se fosse sobre coisas triviais tais como batatas, parafusos, pernas, ornitorrincos, catecolaminas...
         Algumas palavras... fala sensação entidade língua significado  conhecer percepção... produziam assunto para horas e horas aulas e aulas.
         Percepção então foi a campeã! Como é complicado perceber as coisas! E devido a esses aperfeiçoamentos linguísticos, rapidamente utilizei todo meu arcabouço cultural psico-social familiar consensual genético subliminar para perceber que teria que estudar muito para encarar esse curso.
         Mas sempre eu procurava imaginar a possibilidade de usar esse universo tão teórico em algo visual. Foi assim que apareceu a Senhora Metalinguagem, que simplificando bastante, é uma espécie de auto análise. Por exemplo... falar sobre a fala, ou estudar como um ramo do conhecimento se estrutura para a organização desse conhecimento...
         Foi quando o professor Walter Zanini, me convidou para participar da exposição “O Fotógrafo Desconhecido” que ele estava programando no Museu de Arte Contemporânea da Usp. O MAC um espaço maravilhoso, que ficava no espetacular prédio da Bienal de São Paulo, projeto pelo Niemeyer. É nele que fica aquela gigantesca rampa de concreto sustentada pelas colunas que são algo semelhante a uma planta.
         - Olha, Dario, a exposição tem dois setores. Um é para convidados e no outro os participantes deverão passar por um processo de seleção.
         - Puxa, Zanini, você vai me colocar na ala dos convidados?!
       - Justamente. Já conheço alguns trabalhos teus, mas gostaria que você fizesse algo novo.
         - Obrigado... que bom! Então vou ter que caprichar...!!!
         A primeira ideia que me surgiu foi fazer uma gigantesca ampliação de uma foto três por quatro, dessas de documentos
          Entretanto, eu estava com a ideia da "foto da foto" martelando na cabeça e fiz essa série intitulada “Assim vocês ficam me conhecendo”












Isso foi por volta de 1973. Um crítico de arte escreveu um texto, no Estadão ou na Folha sobre essas fotos. Descobriu coisas que eu nem imaginava. Infelizmente esqueci o nome do cara...
A última foto é a minha predileta, mas o crítico falou muito da segunda... era algo mais ou menos sobre meu protesto por me  sentir prisioneiro do sistema...!!!!

As imagens aí em cima, são fotos de cópias sobre papel. 
Os negativos delas também desapareceram. 


                                                 página publicada em 4 de março de 2015


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