terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

mais músicos... menos violência

            Caro leitor...
            Estamos nos acostumando ver cenas de violência explícita, tanto em obras de ficção, como na realidade. Uma coisa terrível é a banalização da violência que muitas vezes serve de chamariz para filmes, seriados, novelas, e ultimamente existem programas de televisão, onde uma equipe sai acompanhando a polícia ao vivo em atos de violência, arriscando a pele dos repórteres das grandes redes sensacionalistas. Portanto vou  publicar mais uma vez um texto que escrevi há alguns anos e que andou viajando pela net.
                        É o que segue...


            MAIS MÚSICOS... MENOS VIOLÊNCIA


            De todas as invenções intelectuais da humanidade a matemática e a música ocupam um lugar absolutamente especial entre outros meios de comunicação em termos de criatividade.
            Eu me arrisco ao dizer que a música e a matemática são as principais criações do ser humano!!!
            A literatura, ao gravar (ou grafar) as idéias, reproduz a conversa ou o discurso, e o leitor é remetido a algum tipo de significação
            O teatro, uma das formas mais antigas de arte popular, conta eventos reais ou fantásticos, também cria significados que formam representações na mente dos espectadores.
            As artes plásticas: escultura, pintura, desenho, fotografia, cinema e seus derivados tentam representar o que é visto. Mesmo quando os autores procuram trabalhar com elementos que não representam imagens de objetos reais em ficções fabulosas, essas tentativas de ruptura trabalham com códigos e conceitos preexistentes e acabam quase sempre se reportando a algum tipo de representação da realidade exterior.
            Na matemática, mesmo as quatro operações são conceitos abstratos. A álgebra, trigonometria e geometria, o cálculo numérico...  são criações do ser humano, nada disso existe na natureza. Alguns elementos fundamentais da matemática, como reta, plano, números irracionais, e tantos outros, são conceitos criados pelos matemáticos e só existem dentro da matemática. São usados pelos cientistas ao criar modelos para tentar decifrar e explicar o mundo, mas isso não significa que o mundo seja matemático. A matemática está apenas dentro da cabeça do ser que a utiliza, e é totalmente criação do ser humano.
            Na música ocorre algo semelhante, mas provavelmente o grau de abstração é ainda maior. Todos os princípios, todos os códigos e regras são essencialmente musicais. A música não representa nada. (Quando me refiro à música, estou falando da música instrumental, evidentemente a letra de uma canção conta uma estória.)
            Todos os sentimentos que a música provoca, todas idéias que ela sugere se manifestam em imagens puramente musicais. Mesmo quando alguns compositores tentam imitar a natureza como Vivaldi na sua Tempestade no Mar, ou Beethoven também tentando imitar uma tempestade na sua sexta sinfonia, conseguem apenas nos transmitir uma vaga ideia da sensação de estar numa tempestade. A maioria dos ouvintes só vai identificar a tempestade se já estiver preparado e preocupado para reconhecer o trecho onde ocorre a suposta imitação.
            Mesmo a codificação de que tons menores são tristes e maiores são alegres é essencialmente cultural. No oriente os povos árabes, por exemplo, dançam alegremente aos sons das melodias construídas dentro de escalas menores.
            Então, já que não está ligada totalmente a uma representação do exterior humano, a música é por sua própria natureza algo onde a criatividade é absolutamente essencial. Muitas pessoas poderiam perguntar onde está a criatividade quando o pianista se apresenta numa sala de concerto tocando uma peça que já foi repetida por ele milhares de vezes até ficar "pronta". Eu diria que o próprio processo que ocorre no cérebro do ouvinte de transformar uma seqüência de notas, de formar blocos sonoros,  num todo melódico já é algo de extraordinariamente criativo. Mas, o importante, é que com certeza um intérprete nunca conseguirá tocar a mesma peça sempre rigorosamente da mesma forma. E também, a mente do ouvinte sempre a ouvirá e a reconstruirá diferentemente.
Acontece que inventamos o gramofone, depois a vitrola, o gravador de fita, o CD, e os moderníssimos e poderosíssimos sons portáteis a preço de banana, isso sem falar nos potentíssimos amplificadores e caixas de som produzindo megawatts sonoros capazes de atingir quilômetros de distância, e serem percebido por pessoas surdas, que sentem as vibrações fantásticas em suas entranhas.
   Mas o que é mais interessante, e eu diria assustador e lamentável, é que essas invenções aparentemente tão úteis e inocentes, que na suas origens serviram para divulgar e possibilitar que todos ouvissem música, hoje servem exatamente para acabar com a invenção musical!
São milhões de pessoas ouvindo centenas de vezes a mesma música tosca e rústica das paradas de sucessos! Não há dúvida que a música popular tem que ser simples e de fácil assimilação, caso contrário ela não seria popular. Acontece que a atual industria cultural (ver o filósofo Adorno) produz um tipo de música popular que atinge os mais altos graus de mesmice. E os malditos pum, pum-pum, os raps, os funks, psy, trances e congêneres tocados a volumes ensurdecedores estão em todo lugar. Antes era só no borracheiro, agora é no vizinho, no supermercado, no ônibus, no parque, na praça. E nas festas os coitados dos garotos, que não conhecem outra coisa, dançam todos fazendo o mesmo trejeito, na mesma hora, todos com o mesmo gritinho ... iu ú... uau!... naquela mesma parte da canção.
Imagine um sábado à noite. Quantas centenas de jovens numa cidade como S. Paulo dançando exatamente a mesma música! No mesmo ritmo! Todos iguaizinhos. Fazendo o que o maldito CD manda!
Onde está a criatividade? Onde está a invenção?
Então gostaria de iniciar uma campanha, e peço ao caríssimo e paciente leitor que simplesmente divulgue o seguinte:

Toque um instrumento musical!

           Toque simplesmente!
Não importa se tocar mal, mas toque!
Compre um violão para seu filho ( ou sobrinho ou namorada, ou...). Arrume um professor e peça para o garoto (ou garota) cantar e tocar para os colegas e para você. (Os professores de música na sua maioria, gostam muito de dar aulas e cobram muito barato) Um violão simples custa o preço de alguns poucos CDs.
O violão é um instrumento muito interessante pela sua versatilidade. Quando bem tocado pode chegar a níveis de riqueza e complexidade muito grandes, mas por outro lado, com alguns meses de estudo qualquer pessoa já consegue tocar uma quantidade de acordes e ritmos suficientes para acompanhar meia dúzia de músicas e juntar uma turminha para cantar. A flauta doce também é uma opção muito boa. É um instrumento barato e muito fácil de aprender. Com poucas aulas, já é possível tocar algumas melodias simples.
Seu filho (ou namorada, ou sobrinho, ou...), mesmo errando e desafinando vai estar criando alguma coisa ao invés de ouvir pela bilionésima vez aquele som bestial, ou aquela voz esganiçada impostas pelas grandes empresas da industria cultural internacional.         (Aliás, uma coisa que sempre pergunto aos meus amgos músicos... proibiram o uso de melodia???)
Essas corporações internacionais gigantescas necessitam de músicas extremamente simples, verdadeiramente toscas (musicalmente falando), que possam vender em qualquer canto do planeta. E as vítimas são os jovens, que evidentemente vão querer cantar e dançar ao som do que aparece na TV.
Junte os garotos seus vizinhos, e organize ou convença-os a organizar uma bandinha mesmo que você ache meio chato. Nem que seja para fazer uma boa batucada, com todo mundo cantando desafinado.
Eles vão estar criando!
Se você for professor, leve a ideia para sua escola. Se você trabalha numa empresa grande, ou se você frequenta um clube, ou mesmo na turma do boteco... lance a ideia e batalhe por ela. E procure incentivar a turma para tocar os grandes sucessos da música popular brasileira que dão de 400 a zero no que a Industria Cultural Internacional nos obriga ouvir.
Não importa se no começo eles tocarem mal. Pelo menos eles saem da passividade, escapam dos entorpecentes eletrônicos... (depois... aos poucos vão melhorar, com certeza...)      
E... talvez deixem de sair por aí, bebendo, cheirando pó, ou fumando crack, por que fazer música é muito mais divertido, do que ficar escondido num canto ingerindo drogas.
Veja, caro leitor, como a “mass media” joga continuamente no mercado grupos de hard rock, punk, funk que além se serem musicalmente rudimentares e toscos (só conseguem usar três ou quatro acordes) incentivam à violência e ao desrespeito social, muitas vezes com letras e atitudes obscenas.  
A música, principalmente a música instrumental, inspira muita paz e fraternidade entre as pessoas.
A música "enturma" as pessoas, que participam de um evento musical.
Quem anda onde rola música ao vivo, está acostumado que de repente aparece um músico que não é do conjunto para “dar uma canja”. E depois, fica todo mundo contente por que conseguiram tocar junto... mesmo sem se conhecerem!!!!

E quando o ser humano cria, dentro dele se manifesta "aquela" centelha de divindade. Talvez seja por causa disso que muitos pintores do passado costumavam representar os anjos segurando harpas...

            
****Meu texto original (com pequenas modificações) termina aí... com os anjinhos tocando arpas, mas eu gostaria de completar com um pedido aos pais... e aos adultos em geral...

            Exijam que a escola de seus filhos, sobrinhos, e amigos, levem a sério as aulas de música.
Logo depois da segunda guerra mundial, instituíram aqui no Brasil o “Canto Orfeônico”, com participação do grande Villa Lobos, que chegou a reger corais de milhares de crianças em estádios de futebol.
 Eu lembro que nas aulas de canto, no colégio, nós aprendíamos a ler partitura, solfejar, cantar afinadinho... evidentemente era tudo muito simples.
Mas a garotada saía sabendo os rudimentos. Sabiam que música tem compassos, notas, acordes, escalas e principalmente melodias!
            Bem... pouco mais de uma década depois surgiu a Bossa Nova!!
Um movimento de vanguarda, de grande criatividade e ótimo nível técnico que revolucionou a música popular do mundo inteiro!!!
     Isso porque nosso querido Brasil tem uma música popular absolutamente maravilhosa. Muito fértil e variada.
            Ensinar música para a garotada aqui neste nosso amado país é semear em terreno fértil.

                    MAIS MÚSICOS MENOS VIOLÊNCIA!!!!

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