terça-feira, 17 de dezembro de 2013

quase erótica...

                                      QUASE NAMOREI A ANGÉLICA

Mais uma adaptação das aventuras eróticas do Duda, devidamente depurada dos detalhes obscenos...

         Conheci a Angélica faz um bom tempo, num restaurante relativamente bom, onde se reuniam alguns poucos boêmios. Passei por lá numa noite em que havia uma comemoração com muita gente aproveitando os drinques vagabundos de graça, aquela algazarra toda. Lá estavam alguns conhecidos com os quais tentei conversar, mas a gritaria tornava qualquer diálogo uma tarefa mais ou menos impossível. Peguei uma bebida meio adocicada bem forte, que me deixou meio atordoado, e fiquei zanzando de um lado para o outro.
         De repente, percebi uma moça razoavelmente interessante olhando insistentemente na minha direção. Fiquei meio sem saber o que fazer por que ela me era completamente desconhecida, até olhei pra trás pra ver se era comigo ou não. Todos falavam muito alto dando risada, fazendo piadas sobre tudo e toda hora os olhos da moça pareciam estar grudados em mim. Olhos grandes, cabelos muito negros, um rosto bonito, mas havia alguma coisa meio fora de lugar, as distâncias, as proporções, atacavam a beleza produzindo um ar às vezes misterioso, às vezes mau. Falava e ria bastante, comentando sua paixão pelo Palmeiras e pela beleza de um jogador cujo nome não lembro mais. Pelo comportamento, não era do tipo de mulher que me atrai, mas ela olhava tanto que me aproximei desse grupo, onde alguém me perguntou, Você que também é palmeirense acha esse cara assim tão bonito? Brinquei fazendo alguma piadinha sobre não ser muito especialista em beleza masculina, e qualquer coisa sobre a beleza feminina, o já levou a moça achar que era com ela. Chegou ao meu lado, jogou olhares sedutores, afastou seus longos cabelos repartidos assimetricamente, em movimentos suaves, e disparou um monte de perguntas, sempre repetindo esses movimentos, assim, digamos insinuantes... Como você se chama, onde mora, vem sempre aqui, já tinha te visto... Mas alguém me puxou para um outro grupo que falava sobre degustação de vinho, e lá veio mais um monte de disparates. Eu mais ou menos atordoado... de repente a Angélica, passou perto de mim, me afastou dos outros e me disse, Olha achei você um cara interessante, mas aqui não dá pra conversar, vou até o restaurante ao lado e te espero, passa lá daqui uma hora, Bem eu posso sair agora, Não, não quero que vejam a gente sair junto. Sabe como é... Está bem, onze e meia mais ou menos, Isso.    
         E lá eu fiquei andando de um lado para o outro, mais perdido ainda, até que fui abordado por um sujeito metido a folclorista, mas muito chato, daqueles que gosta de fazer perguntas e quando você cai na dele e responde, passa a demonstrar que sabe muito mais do que você, e despeja um monte de baboseiras. Lá pelas tantas o cara me falou que ele tinha a solução para o lixo... Sabe qual é? E insistia, desafiando, e quando respondi que a coisa é complicada, sapecou, Complicado nada, é muito simples, basta pegar o lixo colocar nos aviões cargueiros e jogar nas florestas! Fiquei meio boquiaberto... até hoje não sei se o cara estava tirando uma da minha cara, concordei e pedi licença para pegar sei lá o que... e caí fora, atrás da perua.     
         -   Olá, pensei que tinha esquecido de mim – ela falou. 
         - Ora, o que é isso... é que lá ainda tinha um monte de gente. Você tem que sair logo, ou podemos tomar mais alguma coisinha, bater um papo?
         O local estava bem mais vazio, então escolhemos uma mesa mais discreta e lá ficamos desenrolando uma conversa tipo paquera inicial, onde tudo é agradável. Angélica bem oferecida, se esmerava nas poses olhares gestos pegadinhas na mão e outras artimanhas. É claro que eu estava gostando, mas ela tinha algo estranho, ao mesmo tempo que imaginava o que poderia rolar, havia um certo certo desconforto, talvez preconceito, ou medo de trepar com uma desconhecida. (Agora o que mais gosto de fazer é muita sacanagem logo no começo. Sabe o que é você pegar...) Bem... os delírios eróticos do Duda ficam entre parêntesis para despertar a imaginação dos meus leitores mais... malandrinhos. 
           Bom, quando saímos do bar, apesar de tudo, eu estava um tanto quanto excitado e evidentemente levei a moça para casa. Quando chegamos, ela pediu para parar um pouco adiante, para não ficar na frente do portão, e o que seria um beijinho de despedida, se transformou rapidamente num suceder de beijos e carinhos muito intensos.  E de repente, Angélica abre o zíper de minha calça e mergulha gulosamente até minha mais completa satisfação. (Bem, aí o Duda se divertiu contando tudo nos mais mínimos detalhes, mas em respeito à moral e bons costumes...)
         Quando consegui me  recuperar do espanto e prazer comecei rir, o que a deixou um pouco desconcertada. - Por que você está rindo, ela perguntou. - Ora, você me chupa desse jeito e queria que eu não ficasse feliz, acho que é alegria.  
         Mas não era alegria, era um misto de resto de prazer com um vazio e uma certa dose de repulsa, e como já era tarde eu realmente estava bem cansado. Ela se despediu desceu do carro lentamente e assim que entrou portão a dentro respirei aliviado  e fui embora.
         Foi assim que a Angélica entrou na minha vida, numa passagem bastante curta mas um tanto significativa.
         Mas apesar da Angélica ser uma mulher bem bonita tanto de cara como de corpo, não me sentia atraído. Sei lá, emanava algo que não me inspirava... acho que o ataque inicial me levou à logica conclusão que ela deveria ser bastante promíscua, afinal eu não era um homem assim tão irresistível. Eu realmente não me entusiasmava com a ideia de compartilhar minha possível namorada com uma boa parte da cidade. Não queria começar algo que com certeza não ia ser bem feito, e depois ter que ficar dando desculpas então sugeri que seria melhor tentarmos ficar amigos. Inventei uma estória qualquer sobre uma paixão secreta, ou qualquer coisa no gênero, que seria bom a gente se conhecer melhor antes de começar uma relação amorosa. E a reação dela foi um bem sarcástica dizendo que longe dela se envolver amorosamente com um cara assim como eu.
         Passamos a nos encontrar com bastante frequência. Mas Angélica era uma mulher bastante interesseira, e continuava me procurando, sempre pedindo algum favor, e com algum tipo de insinuação. Ao mesmo tempo me contou que gostava de  um fulano que segundo ela era muito bonito mas meio bandido, e que tentava ficar longe dele mas não conseguia.
         Um belo dia ao conferir minha conta bancária apareceu um estranho cheque que não me lembrava para quem tinha passado. Ao examinar o bloquinho dos cheques,  percebi que faltava o último canhoto do talão. Fui ao banco e lá me deram uma cópia de um cheque cuja assinatura não era a minha, e que por ser um valor relativamente baixo, não havia sido conferido. Ou seja, alguém roubara a última folha do meu talão, com o canhoto e tudo. E no verso do cheque estava um endereço, uma  rua Bahia. Então resolvi convidar Angélica para tomar umas cervejinhas, e quando estávamos conversando tirei um papel do bolso e disse que gostaria de viajar... - Anota aí pra mim os lugares! Eu anotar? É isso mesmo, esqueci os óculos.
         Pensei em lugares com as letras iniciais dos números do valor que estava na face do cheque e por fim falei Bahia. Conversamos mais um tempo, e quando cheguei em casa fui correndo comparar as letras e não havia dúvida que quem escreveu rua Bahia no cheque tinha sido ela. Isso me deixou bem aborrecido. Não sabia se deveria falar com ela ou não, levar o cheque enfiar em baixo do nariz dela ou não.
        
         Alguns dias depois ao passar no café que era frequentado por alguns conhecidos, um deles estava lá sentado lendo um jornal e me chamou.
         - Você soube que a Angélica morreu nessa madrugada?      
         - O que?! Morreu?!
         -É...cara...
         - Mas como? Onde? – eu fiquei realmente abismado... 
         - Levou um tiro... 
         - O que?!!! Um tiro!!! Que loucura... foi alguma briga?
         - Não foi briga... foi assassinada de madrugada, na frente da própria casa! Pela trajetória da bala, ela provavelmente estava ajoelhada, foi um tiro na nuca, de cima para baixo, a queima roupa!!
         Apesar de tudo, me vieram lágrimas nos olhos. Comentamos que ela andava com uns caras barra pesada. Ele achava que tinha sido o tal fulano com que ela saia de vez em quando. Parece que era bandido mesmo.
         - Caramba! Então escuta só o que vou contar... Tenho uma outra amiga que ajuda um jovem adolescente desvairadinho que morava num orfanato lá na região. E foi justamente nesse domingo, quando eu estava pensando em ligar para a Angélica, essa amiga ligou dizendo que ia passar em casa e me levar pra conhecer o orfanato. Como a visita demorou mais do que o previsto e acabei não marcando encontro com a Angélica.  Provavelmente iríamos estacionar nalgum boteco e eu a levaria para casa..                
         - Cara! Quase que você se mete na maior encrenca! Poderia até ser acusado!
             - Ou levado um tiro também!                                                                                        

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