QUASE NAMOREI A ANGÉLICA
Mais uma
adaptação das aventuras eróticas do Duda, devidamente depurada dos detalhes
obscenos...
Conheci a Angélica faz um bom tempo, num restaurante
relativamente bom, onde se reuniam alguns poucos boêmios. Passei por lá numa noite
em que havia uma comemoração com muita gente aproveitando os drinques
vagabundos de graça, aquela algazarra toda. Lá estavam alguns conhecidos com os
quais tentei conversar, mas a gritaria tornava qualquer diálogo uma tarefa mais
ou menos impossível. Peguei uma bebida meio adocicada bem forte, que me deixou
meio atordoado, e fiquei zanzando de um lado para o outro.
De repente, percebi uma moça
razoavelmente interessante olhando insistentemente na minha direção. Fiquei
meio sem saber o que fazer por que ela me era completamente desconhecida, até
olhei pra trás pra ver se era comigo ou não. Todos falavam muito alto dando
risada, fazendo piadas sobre tudo e toda hora os olhos da moça pareciam estar
grudados em mim. Olhos grandes, cabelos muito negros, um rosto bonito, mas havia
alguma coisa meio fora de lugar, as distâncias, as proporções, atacavam a
beleza produzindo um ar às vezes misterioso, às vezes mau. Falava e ria
bastante, comentando sua paixão pelo Palmeiras e pela beleza de um jogador cujo nome não lembro mais. Pelo comportamento, não era do tipo de
mulher que me atrai, mas ela olhava tanto que me aproximei desse grupo, onde alguém me perguntou, Você que também é palmeirense acha esse cara assim tão
bonito? Brinquei fazendo alguma piadinha sobre não ser muito especialista em
beleza masculina, e qualquer coisa sobre a beleza feminina, o já levou a moça
achar que era com ela. Chegou ao meu lado, jogou olhares sedutores, afastou seus
longos cabelos repartidos assimetricamente, em movimentos suaves, e disparou um
monte de perguntas, sempre repetindo esses movimentos, assim, digamos
insinuantes... Como você se chama, onde mora, vem sempre aqui, já tinha te
visto... Mas alguém me puxou para um outro grupo que falava sobre degustação de
vinho, e lá veio mais um monte de disparates. Eu mais ou menos atordoado... de
repente a Angélica, passou perto de mim, me afastou dos outros e me disse, Olha
achei você um cara interessante, mas aqui não dá pra conversar, vou até o
restaurante ao lado e te espero, passa lá daqui uma hora, Bem eu posso sair
agora, Não, não quero que vejam a gente sair junto. Sabe como é... Está bem,
onze e meia mais ou menos, Isso.
E lá eu fiquei andando de um lado para
o outro, mais perdido ainda, até que fui abordado por um sujeito metido a
folclorista, mas muito chato, daqueles que gosta de fazer perguntas e quando
você cai na dele e responde, passa a demonstrar que sabe muito mais do que você,
e despeja um monte de baboseiras. Lá pelas tantas o cara me falou que ele tinha
a solução para o lixo... Sabe qual é? E insistia, desafiando, e quando respondi
que a coisa é complicada, sapecou, Complicado nada, é muito simples, basta
pegar o lixo colocar nos aviões cargueiros e jogar nas florestas! Fiquei meio
boquiaberto... até hoje não sei se o cara estava tirando uma da minha cara,
concordei e pedi licença para pegar sei lá o que... e caí fora, atrás da perua.
- Olá,
pensei que tinha esquecido de mim – ela falou.
- Ora, o que é isso... é que lá ainda tinha um monte de gente. Você tem que sair logo, ou podemos tomar mais alguma coisinha, bater um papo?
- Ora, o que é isso... é que lá ainda tinha um monte de gente. Você tem que sair logo, ou podemos tomar mais alguma coisinha, bater um papo?
O local estava bem mais vazio, então
escolhemos uma mesa mais discreta e lá ficamos desenrolando uma conversa tipo
paquera inicial, onde tudo é agradável. Angélica bem oferecida, se esmerava nas
poses olhares gestos pegadinhas na mão e outras artimanhas. É claro
que eu estava gostando, mas ela tinha algo estranho, ao mesmo tempo
que imaginava o que poderia rolar, havia um certo certo desconforto, talvez
preconceito, ou medo de trepar com uma desconhecida. (Agora o que mais
gosto de fazer é muita sacanagem logo no começo. Sabe o que é você pegar...) Bem... os delírios eróticos do Duda ficam entre parêntesis para despertar a imaginação dos meus leitores mais... malandrinhos.
Bom, quando saímos do bar, apesar de tudo, eu estava um tanto quanto excitado e
evidentemente levei a moça para casa. Quando chegamos, ela pediu para parar um
pouco adiante, para não ficar na frente do portão, e o que seria um beijinho de
despedida, se transformou rapidamente num suceder de beijos e carinhos muito
intensos. E de repente, Angélica abre o
zíper de minha calça e mergulha gulosamente até minha mais completa satisfação.
(Bem, aí o Duda se divertiu contando tudo nos mais mínimos detalhes, mas em
respeito à moral e bons costumes...)
Quando consegui me recuperar do espanto e prazer comecei rir, o
que a deixou um pouco desconcertada. - Por que você está rindo, ela perguntou. -
Ora, você me chupa desse jeito e queria que eu não ficasse feliz, acho que é
alegria.
Mas não era alegria, era um misto de
resto de prazer com um vazio e uma certa dose de repulsa, e como já era tarde
eu realmente estava bem cansado. Ela se despediu desceu do carro lentamente e
assim que entrou portão a dentro respirei aliviado e fui embora.
Foi assim que a Angélica entrou na
minha vida, numa passagem bastante curta mas um tanto significativa.
Mas apesar da Angélica ser uma mulher
bem bonita tanto de cara como de corpo, não me sentia atraído. Sei lá, emanava algo que não me inspirava... acho que o ataque inicial me levou à logica
conclusão que ela deveria ser bastante promíscua, afinal eu não era um homem assim
tão irresistível. Eu realmente não me entusiasmava com a ideia de compartilhar
minha possível namorada com uma boa parte da cidade. Não queria começar algo
que com certeza não ia ser bem feito, e depois ter que ficar dando desculpas
então sugeri que seria melhor tentarmos ficar amigos. Inventei uma estória
qualquer sobre uma paixão secreta, ou qualquer coisa no gênero, que seria bom a gente se conhecer melhor antes de começar uma relação
amorosa. E a reação dela foi um bem sarcástica dizendo que longe dela se
envolver amorosamente com um cara assim como eu.
Passamos a nos encontrar com bastante
frequência. Mas Angélica era uma mulher bastante interesseira, e continuava
me procurando, sempre pedindo algum favor, e com algum tipo de
insinuação. Ao mesmo tempo me contou que gostava de um fulano
que segundo ela era muito bonito mas meio bandido, e que tentava ficar longe
dele mas não conseguia.
Um belo dia ao conferir minha conta
bancária apareceu um estranho cheque que não me lembrava para quem tinha
passado. Ao examinar o bloquinho dos cheques, percebi que faltava o último
canhoto do talão. Fui ao banco e lá me deram uma cópia de um cheque cuja
assinatura não era a minha, e que por ser um valor relativamente baixo, não
havia sido conferido. Ou seja, alguém roubara a última folha do meu talão, com
o canhoto e tudo. E no verso do cheque estava um endereço, uma rua Bahia. Então resolvi convidar Angélica
para tomar umas cervejinhas, e quando estávamos conversando tirei um papel do
bolso e disse que gostaria de viajar... - Anota aí pra mim os lugares! Eu anotar? É
isso mesmo, esqueci os óculos.
Pensei em lugares com as letras
iniciais dos números do valor que estava na face do cheque e por fim falei
Bahia. Conversamos mais um tempo, e quando cheguei em casa fui correndo
comparar as letras e não havia dúvida que quem escreveu rua Bahia no cheque
tinha sido ela. Isso me deixou bem aborrecido. Não sabia se deveria falar com
ela ou não, levar o cheque enfiar em baixo do nariz dela ou não.
Alguns dias depois ao passar no café
que era frequentado por alguns conhecidos, um deles estava lá sentado lendo um
jornal e me chamou.
- Você soube que a Angélica morreu nessa madrugada?
- O que?! Morreu?!
- Você soube que a Angélica morreu nessa madrugada?
- O que?! Morreu?!
-É...cara...
- Mas como? Onde? – eu fiquei realmente abismado...
- Mas como? Onde? – eu fiquei realmente abismado...
- Levou um tiro...
- O que?!!! Um tiro!!! Que loucura...
foi alguma briga?
- Não foi briga... foi assassinada de
madrugada, na frente da própria casa! Pela trajetória da bala, ela
provavelmente estava ajoelhada, foi um tiro na nuca, de cima para baixo, a
queima roupa!!
Apesar de tudo, me vieram lágrimas nos
olhos. Comentamos que ela andava com uns caras barra pesada. Ele achava que
tinha sido o tal fulano com que ela saia de vez em quando. Parece que era
bandido mesmo.
- Caramba! Então escuta só o que vou
contar... Tenho uma outra amiga que ajuda um jovem adolescente desvairadinho
que morava num orfanato lá na região. E foi justamente nesse domingo, quando eu
estava pensando em ligar para a Angélica, essa amiga ligou dizendo que ia passar
em casa e me levar pra conhecer o orfanato. Como a visita demorou mais do
que o previsto e acabei não marcando encontro com a Angélica. Provavelmente iríamos estacionar nalgum
boteco e eu a levaria para casa..
- Cara! Quase que você se mete na
maior encrenca! Poderia até ser acusado!
- Ou levado um tiro também!
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